Editor mexicano foge depois de ser sequestrado e agredido

Cidade do México, 6 de fevereiro de 2015 – O diretor editorial de um jornal de Matamoros deixou a cidade depois que indivíduos armados o sequestraram em seu escritório na quarta-feira e o agrediram, obrigando o diário a anunciar que não mais fará coberturas sobre violência. O sequestro foi realizado logo depois de o jornal publicar informações e fotos sobre a violência dos cartéis de droga perto da fronteira entre os Estados Unidos e o México, segundo as informações da imprensa.

Enrique Juárez Torres, diretor editorial do jornal El Mañana em Matamoros, foi sequestrado por volta das 16h00 depois que o diário publicou uma reportagem com um título de capa que dizia “Combate: 9 mortos”. Três pessoas armadas irromperam no prédio e se dirigiram ao seu escritório, segundo informou o jornal El Mañana em Reynosa, do mesmo grupo editorial (Nenhuma notícia sobre o sequestro aparece nos jornais de Matamoros).

Juárez tentou defender-se com uma faca, mas foi obrigado a entrar em uma van cinza, golpeado na cabeça e no estômago, e ameaçado de morte, segundo um artigo publicado no El Mañana de Reynosa. Seus captores o jogaram mais tarde em frente às instalações do jornal. Após o ataque, Juárez deixou Matamoros, segundo as informações da imprensa.  

“Condenamos o sequestro de Enrique Juárez Torres e instamos as autoridades a investigar o caso e processar os responsáveis”, afirmou em Nova York o coordenador sênior do programa das Américas do CPJ, Carlos Lauría. “É ultrajante que os cartéis de droga mexicanos decidam o que pode ou não ser publicado pela imprensa local. Os cidadãos mexicanos estão sendo privados de informação vital sobre temas que afetam seu cotidiano”.

Hildebrando Deandar, diretor-geral do grupo editorial El Mañana, anunciou que o jornal de Matamoros deixará de publicar informações sobre violência, segundo as informações da imprensa. Ele acrescentou que pelo menos quatro jornalistas pediram demissão do jornal em virtude do ataque, de acordo com as informações.

Um caminhão que transportava exemplares da edição de quarta-feira do El Mañana de Matamoros foi interceptado na rodovia que une Matamoros a Reynosa e depois abandonado, informou a imprensa.

“O que fizeram comigo foi um aviso a todos nós que trabalhamos ali”, afirmou Juárez à Associated Press.

Seu sequestro reflete os perigos de cobrir o tráfico de drogas no estado de Tamaulipas, onde os grupos criminosos lutam pelo controle do território há uma década. As publicações de Matamoros, em geral, se mantêm em silêncio sobre as atividades dos cartéis ou sobre qualquer coisa que possa enfurecê-los, uma política que foi desafiada pelo El Mañana em Matamoros em meio a um confronto que começou domingo e já havia tirado a vida de ao menos 15 pessoas, segundo as informações da imprensa. Juárez afirmou que a decisão de publicar notícias sobre o tráfico de drogas se deveu à seriedade da situação, informou a AP.

Os meios de comunicação praticam a autocensura e seguem regras não escritas para sobreviver, garantiu ao CPJ um jornalista em Tamaulipas, que pediu para permanecer anônimo por questões de segurança. “Sabemos bem o que temos que publicar e o que não publicar”, disse o jornalista, que tem uma posição sênior.

O jornalista se referiu a um ambiente no qual os cartéis de droga exercem controle sobre o que se publica, e “ninguém nos protege”. Ele acrescentou que “essas são as condições nas quais trabalhamos”.

A instabilidade recente é fruto de um racha no cartel do Golfo à medida que facções rivais disputam o território ao redor de Matamoros, que é vizinha a cidade de Brownsville, no Texas. O consulado norte-americano em Matamoros disse aos seus funcionários esta semana que restrinjam as viagens devido à escalada da violência.   

Ante a ausência de cobertura dos meios tradicionais, usuários do Twitter enviam tuites sobre tiroteios e segurança ao longo da fronteira de Tamaulipas. A doutora María del Rosario Fuentes Rubio, médica que utilizava o Twitter em Reynosa sob o nome de @Miut3, foi sequestrada e supostamente assassinada em outubro, segundo as informações da imprensa. Fotos de um corpo ensanguentado foram publicadas em sua conta no Twitter, junto com uma advertência a outros usuários para que deixassem de distribuir informações através das redes sociais, acrescentaram os artigos. Alguns usuários do Twitter, que informavam com a hashtag #ReynosaFollow, fecharam suas contas. As autoridades não confirmaram que Fuentes foi assassinada.

A violência vinculada ao tráfico de drogas converteu o México em um dos países mais perigosos do mundo para o exercício do jornalismo, segundo dados do CPJ. Mais de 50 jornalistas foram assassinados ou desapareceram desde 2007, quando começou uma grande escalada de violência. O México ocupou o sétimo lugar na edição 2014 do Índice de Impunidade do CPJ, que destaca os países onde jornalistas são assassinados e os responsáveis não são processados pelos crimes.