Diretor de estação de rádio comunitária assassinado em El Salvador

Agressores não identificados mataram Nicolás Humberto García, diretor de uma rádio comunitária no estado de Ahuachapán, El Salvador, em 10 de março de 2016, segundo informações da imprensa.

García, que dirigia a estação de rádio comunitária Expressa no município de Tacuba, foi morto em torno das 19h30 na cidade vizinha de El Carrizal, de acordo com a imprensa. A polícia de Tacuba disse ao CPJ que seu corpo foi encontrado na mesma noite com sinais de abuso. Ele tinha sido desfigurado, e sofreu ferimentos de facão e bala, disse a polícia.

García, de 23 anos, estava trabalhando na rádio comunitária desde que  tinha 13 anos, quando  se juntou a um programa antiviolência juvenil local. Ele estava trabalhando em um papel de liderança na emissora de rádio, pelo menos desde 2013, disse ao CPJ um colega de García que preferiu manter o anonimato por medo de represálias.

Angélica Cárcamo, coordenadora de educação da Associação de Rádios e Programas Participativos (Arpas), que conhecia García há cinco anos, disse ao CPJ que a programação da Expressa incluía uma variedade de temas, como música, direitos humanos, religião e programação antiviolência. A Expressa é uma das sete estações de rádio comunitárias na área.

Após o homicídio, Arpas e duas outras organizações de proeminentes jornalistas salvadorenhos publicaram uma declaração conjunta condenando o assassinato. Os grupos disseram acreditar que o homicídio esteja ligado ao trabalho de García na estação de rádio.

A violência entre grupos criminosos tornou El Salvador a capital de assassinatos do Hemisfério Ocidental, e um dos países mais perigosos do mundo fora de uma zona de guerra, segundo informes da imprensa. A situação piorou depois do rompimento em 2014 de uma trégua entre as gangues de jovens rivais dominantes no país,  Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18.

Jornalistas locais e policiais que falaram com o CPJ descreveram Tacuba como um município profundamente afetado pela violência de gangues. A polícia disse ao CPJ que El Carrizal, onde García vivia, é em grande parte controlada pela MS-13, mas que as cidades vizinhas são dominadas pela Barrio 18.

Cárcamo disse acreditar que havia três motivos por trás do assassinato de García, e todos foram em represália por seu trabalho na rádio. Ela disse que García havia se recusado a ser recrutado pelas gangues, havia proibido criminosos de usar a rádio e havia concedido espaço para a polícia na emissora, como parte de um programa de prevenção da violência. Ela acrescentou que García era um alvo para o recrutamento por causa de sua idade, mas também como resultado de sua posição de destaque na rádio e na comunidade.
Cárcamo disse que tinha visto García apenas cinco dias antes do assassinato e ela não sabia de quaisquer ameaças naquela época. Após sua morte, ela foi informada por colegas locais que na verdade García recebeu ameaças de morte semanas antes do homicídio.

Seu colega que falou sob condição de anonimato, confirmou ao CPJ que García foi ameaçado duas semanas antes de seu assassinato. “As ameaças foram relacionadas a seu programa de prevenção da violência juvenil”, disse ele. Na época do homicídio, García estava dirigindo a rádio, acrescentou o colega. García havia proibido várias pessoas de participar de seus programas por causa de suas ligações com criminosos.

A polícia local disse que pode haver outra razão para a sua morte. Pedro Antonio Alas, chefe da polícia de Tacuba, disse ao CPJ acreditar que García pode ter sido morto por sua amizade com o líder local da gangue Barrio 18, envolvido com rádio comunitária em uma cidade vizinha. Alas disse que García não era um membro da gangue, mas especulou que os membros da MS-13 – a gangue rival – poderiam ter matado García em retaliação. Infelizmente não descartou a possibilidade de que García tenha sido morto por não permitir que membros da gangue usassem a estação de rádio.

Serafín Valencia, diretor da Associação dos Jornalistas Salvadorenhos, disse ao CPJ que jornalistas e ativistas que trabalham para rádios comunitárias são muitas vezes vulneráveis a ameaças de grupos criminosos e políticos locais, que têm sido associados às vezes com o crime organizado.